terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sempre temos alguém que admiramos demais, seja pelo caráter, inteligência,beleza enfim por qualquer motivo.

Esta mulher magnífica que é a Malu Fontes me faz crer que realmente se penso,logo eu existo e que bom existir para ver a evolução da mente humana como é o caso da mestra Malú nem pedi permissão mas eu recebo todas as semanas a coluna que ela publica no jornal A Tarde e esta em especial me tocou muito pela forma que expõe aquilo que eu penso...Tomei a liberdade de postar aqui no meu cantinho de comunicação com os meus alunos...

Malú é meio clichê mas tenho que falar..."Se todos fossem iguais a você..."

É nesta fonte de inteligência que quero beber e que meus alunos bebam também...

Parabéns Malú Fontes e muito obrigada por existir...


NA BAHIA DA TV, AS TROMBETAS DO PARAÍSO

Quem é minimamente crítico condena os anúncios publicitários ancorados na família feliz de margarina, nos quais tudo é lindo, colorido, iluminado, nunca chove e não só a família é branca e loura como os cachorros quase sempre são labradores amarelos de olhos azuis e não apenas sorriem, mas também argumentam, embora com o rabo. Ou seja, é praticamente consenso entre as pessoas normais que as famílias de propaganda de margarina só existem no intervalo comercial da TV. Coitadas das famílias de margarina. Além de condenadas à não existência, são caricaturizadas por gato e cachorro só porque seus integrantes são lindos, ricos, e nórdicos, têm cachorros que gargalham e moram na Casa Cor.

É consenso que, tratando-se de televisão, tudo parece e aparece exagerado. Há quem ache que tudo o que é veiculado na TV é mentira, até mesmo as verdades, de tão exageradas que aparecem no mundo das imagens. Outro dia, numa edição do Profissão Repórter, uma velhinha do sertão nordestino, disse que não queria dar entrevista nenhuma a Caco Barcelos, pois, segundo ela, na televisão tudo é mentira. Argumentou: mora naquele torrão há décadas e nunca viu ali um carro pegando fogo com todo mundo saindo vivo de dentro, muito menos um carro que passasse com as rodas fora do chão. Já na TV, o carro explode e não mata ninguém e alguns ainda avoam (sic).

CACIMBA - O fato é que boa parte de quem despreza as famílias de margarina o faz por seu grau de inverossimilhança, afinal, como bem fofoca a TV, nem mesmo na fantástica e bilionária mansão do golfista Tiger Woods há paz e harmonia que perdure. Pois bem, a Bahia mudou, todo mundo sabe, e as mudanças se fizeram sentir no intervalo comercial. Para quem estava cansado de tanta plasticidade estetizada na TV, a agência que divulga as mudanças promovidas pelo governo baiano não só não achou a menor graça no videozinho disseminado no Youtube, intitulado ‘eu quero morar na propaganda do Governo da Bahia’ como cada vez mais carrega nas tintas para oferecer a quem não suporta as famílias de margarina um tantão da Bahia Profunda, a dos rincões. Quem queria realidade, agora que se deleite, pois ela saiu do telejornalismo e foi fazer ninho no intervalo comercial.

Em 2009, na Bahia, a propaganda oficial na TV trouxe três personagens reais mil vezes mais felizes que o povo da margarina, com a vantagem de serem de pele e osso. Alguns mais osso que pele, é verdade. Três abençoados pelos deuses do poder empoderados de competência nas urnas. Quem não ficou assombrado com a felicidade orgástica de Dona Isabel, épica, agarrada ao cano da água da cacimba que o governo cavou para captar água da chuva? Dona Isabel ficou tão embevecida por poder beber água da chuva que viciou-se, a ponto de bebê-la a toda hora, mesmo sem sede, de tanto que gosta do produto e o acha bonito.

Quem, depois de ver Dona Enedina, alfabetizada pelo Estado aos cem anos, vai duvidar que, do ponto de vista educacional, a Bahia ainda tem problemas? Achando pouco o estrelato dado a ela na propaganda, mandaram buscá-la recentemente no interior para almoçar e passear com o governador, a primeira dama e um ministro de Estado no Palácio de Ondina. Foi objeto de matéria em todas as emissoras de TV. Finalmente, o telespectador, esse enfadado de tanta gente de margarina, se pergunta: para que um lavrador do extremo nordeste da Bahia precisa de dentes se parece ser justamente por não tê-los que escolheram um morador da zona rural de Paripiranga para ilustrar a imagem da felicidade com a luz elétrica em sua casinha?

APÓSTOLOS - Antes dessa santíssima trindade de verdade anunciar com trombetas, ao ritmo do mantra de agora tem/tem/tem (especula-se que o hit será logo substituído pelo refrão minha casa/minha Dilma), que a Bahia é um paraíso para gente real, o máximo que se via de pessoas de verdade satisfeitas na TV eram os meninos das escolas públicas que freqüentavam o elenco do programa Aprovado, em sua versão anterior. Enquanto jornais e telejornalismo mostravam o mundo acabando-se ou já acabado na rede estadual de ensino, no Aprovado só havia aluno feliz que nunca falou em dificuldade, violência escolar, falta de sala ou de professor. Mais pareciam apóstolos de tão contentes e comportados, sem uma queixa sequer, sem uma pergunta incômoda e certos de passar no filtro rigoroso das universidades públicas. Saudosos dos alunos satisfeitos do Aprovado, enojados com o povo de margarina, os telespectadores agora vão ao clímax com o contentamento das suas senhorinhas e do lavrador sem dente, todos de verdade. Sim, pois a TV é que não os inventou.

Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA.

20 de dezembro de 2009


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