quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Cuzco/Perú é muita cultura...

Sacqsaywaman/Perú

Quenqo /Perú

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

Eduardo Galeano

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos"
Eduardo Galeano

Eduardo Galeano

O milho da pipoca somos nós: duros, quebra dentes, impróprios para comer; pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa - voltar a ser crianças!

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente.

Existem pessoas que ficam do mesmo jeito a vida inteira, são pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que seu jeito, é o melhor jeito de ser.

Mas de repente vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Pode ser dor, perder um amor, um filho, um emprego,pode ser ficar pobre, doente, com medo, ansiedade, pânico, depressão...

Imagino que a pipoca fique na panela, e cada vez vai ficando mais quente e ela pensa que não vai aguentar, pensa que sua hora chegou, que vai morrer ...

De dentro da sua casca dura, fechada em sí mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar, a transformação está sendo preparada. A pipoca não imagina do que ela é capaz.

Aí, sem aviso, a grande transformação acontece: bum! e ela aparece uma outra coisa completamente diferente...exceto o piruá, que se mantém milho.

Simbolicamente:

O piruá, são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. o destino delas é triste. Ficarão "duras" a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão receber, nem dar alegria pra ninguem."

E então? A escolha está em suas mãos...

Que tal voltar a ser criança, criativo , espontâneo, numa grande e deliciosa pipoca?

Ou que tal se manter durão em suas idéias e medo de mudar.... pense bem!

- TEXTO BASEADO EM : IDEIAS DE RUBEM ALVES!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A segunda morte do Che

(Pedro Galvão)
As rugas já não rasgam no seu rosto
as nervuras da morte. O nó da asma
já não mais o estrangula, nem desgosto,
nem diarréia, nem vômito ou fantasma
de dor, tortura e medo. O coração
jaz em paz
jaz em paz?
já se fez pó,
o cérebro está morto – o sonho, não –
nem cadáver mais resta, agora é só
ossos, mas ossos de um guerreiro, vivo
como jamás quisieran que estuviera.
Agora que está morto é mais esquivo,
além de toda bala e toda Higuera.
Resta o sonho a matar, resta esse mito,
um c, um h, um e, morto infinito.

“We must kill him. O, we gotta kill him
anywhere, elsewhere, everywhere.
Ô gunfighters do mundo, dai um fim
à tão sinistra luz, a luz esquer-
da que assombra e, sem medo, engatilhai
Macintoshes, mirai, usai o Windows
– ó épicos satélites, rastreai
o olhar campeador (o mais ruim dos)
e os passos que não passam –, com o florete
da palavra mais livre e seus repiques
em googles e youtubes, na internet,
por CNNs e times e newsweeks,
deletai as três letras que empeçonham
os sonhos desses loucos que ainda sonham.”

“Matai, matai o morto que não morre
e está no céu
– no inferno? –,
está emboscado
nas tocaias da morte e à vida acorre
dando sangue ao terror, torvo legado.
Agora que está morto é mais difícil
matá-lo. Ele se esconde em mil obscuros
altares ou covis e sub-reptício
coleia em vossa mente, ei-lo intramuros
em vossa má-consciência, na obsessão
de vencer o vencido vencedor,
na pedra de rancor do coração.
Mas primeiro limpai todo rancor
de vossa alma. E matai esse herói torto,
matai o que não morre, morte ao morto.”

“É preciso matar sua coragem
até que reste apenas covardia.
É preciso matar o herói-miragem
até que reste apenas vilania.
É preciso matar sua beleza
até que reste apenas sua feiúra.
E até que reste apenas sua frieza
é preciso matar sua ternura.
É preciso matar sua piedade,
é preciso matar-lhe o aroma e a flor,
até que reste apenas crueldade,
até que reste apenas seu fedor.
É preciso matar sua memória
até que reste apenas sua escória.”

Nas revistas, refém, o ressuscitam
para matá-lo enfim completamente.
Mas como se, nas fotos que nos fitam
com dureza ou ternura, o olhar não mente?
Nesta foto de Korda, o camarada:
olhar campeador, encara o tempo
e conduz sua bandeira estraçalhada
na luta mais feroz, sonho irredempto.
Matar como, esse olhar, se frente à morte,
se até na última foto do Che vivo,
não há ódio nem medo ao cão e à sorte,
mas só o olhar humano, compassivo
– frente à metralhadora e ao assassino –,
de quem sabe que a morte é seu destino?


Ei-lo vivo na morte, Cid ou Che,
conduzindo a bandeira, não na aurora
mas sozinho na noite, sem mercê:
um homem, sua coragem, tempo afora.
Nenhum deus há no céu a defendê-lo
na luta além da morte, só a memória
e o peito de homens justos, só o desvelo
de guardar a grandeza de sua história.
Chegai, chegai, reuni vossa brigada
e resgatai sua áspera ternura,
até que nasça outro hombre em nossa estrada,
otro hombre raro y rico de aventura.
Na luta contra o algoz, quem o socorre?
Salvai, salvai o morto que não morre.

.

Presente a letra + que perfeita...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sempre temos alguém que admiramos demais, seja pelo caráter, inteligência,beleza enfim por qualquer motivo.

Esta mulher magnífica que é a Malu Fontes me faz crer que realmente se penso,logo eu existo e que bom existir para ver a evolução da mente humana como é o caso da mestra Malú nem pedi permissão mas eu recebo todas as semanas a coluna que ela publica no jornal A Tarde e esta em especial me tocou muito pela forma que expõe aquilo que eu penso...Tomei a liberdade de postar aqui no meu cantinho de comunicação com os meus alunos...

Malú é meio clichê mas tenho que falar..."Se todos fossem iguais a você..."

É nesta fonte de inteligência que quero beber e que meus alunos bebam também...

Parabéns Malú Fontes e muito obrigada por existir...


NA BAHIA DA TV, AS TROMBETAS DO PARAÍSO

Quem é minimamente crítico condena os anúncios publicitários ancorados na família feliz de margarina, nos quais tudo é lindo, colorido, iluminado, nunca chove e não só a família é branca e loura como os cachorros quase sempre são labradores amarelos de olhos azuis e não apenas sorriem, mas também argumentam, embora com o rabo. Ou seja, é praticamente consenso entre as pessoas normais que as famílias de propaganda de margarina só existem no intervalo comercial da TV. Coitadas das famílias de margarina. Além de condenadas à não existência, são caricaturizadas por gato e cachorro só porque seus integrantes são lindos, ricos, e nórdicos, têm cachorros que gargalham e moram na Casa Cor.

É consenso que, tratando-se de televisão, tudo parece e aparece exagerado. Há quem ache que tudo o que é veiculado na TV é mentira, até mesmo as verdades, de tão exageradas que aparecem no mundo das imagens. Outro dia, numa edição do Profissão Repórter, uma velhinha do sertão nordestino, disse que não queria dar entrevista nenhuma a Caco Barcelos, pois, segundo ela, na televisão tudo é mentira. Argumentou: mora naquele torrão há décadas e nunca viu ali um carro pegando fogo com todo mundo saindo vivo de dentro, muito menos um carro que passasse com as rodas fora do chão. Já na TV, o carro explode e não mata ninguém e alguns ainda avoam (sic).

CACIMBA - O fato é que boa parte de quem despreza as famílias de margarina o faz por seu grau de inverossimilhança, afinal, como bem fofoca a TV, nem mesmo na fantástica e bilionária mansão do golfista Tiger Woods há paz e harmonia que perdure. Pois bem, a Bahia mudou, todo mundo sabe, e as mudanças se fizeram sentir no intervalo comercial. Para quem estava cansado de tanta plasticidade estetizada na TV, a agência que divulga as mudanças promovidas pelo governo baiano não só não achou a menor graça no videozinho disseminado no Youtube, intitulado ‘eu quero morar na propaganda do Governo da Bahia’ como cada vez mais carrega nas tintas para oferecer a quem não suporta as famílias de margarina um tantão da Bahia Profunda, a dos rincões. Quem queria realidade, agora que se deleite, pois ela saiu do telejornalismo e foi fazer ninho no intervalo comercial.

Em 2009, na Bahia, a propaganda oficial na TV trouxe três personagens reais mil vezes mais felizes que o povo da margarina, com a vantagem de serem de pele e osso. Alguns mais osso que pele, é verdade. Três abençoados pelos deuses do poder empoderados de competência nas urnas. Quem não ficou assombrado com a felicidade orgástica de Dona Isabel, épica, agarrada ao cano da água da cacimba que o governo cavou para captar água da chuva? Dona Isabel ficou tão embevecida por poder beber água da chuva que viciou-se, a ponto de bebê-la a toda hora, mesmo sem sede, de tanto que gosta do produto e o acha bonito.

Quem, depois de ver Dona Enedina, alfabetizada pelo Estado aos cem anos, vai duvidar que, do ponto de vista educacional, a Bahia ainda tem problemas? Achando pouco o estrelato dado a ela na propaganda, mandaram buscá-la recentemente no interior para almoçar e passear com o governador, a primeira dama e um ministro de Estado no Palácio de Ondina. Foi objeto de matéria em todas as emissoras de TV. Finalmente, o telespectador, esse enfadado de tanta gente de margarina, se pergunta: para que um lavrador do extremo nordeste da Bahia precisa de dentes se parece ser justamente por não tê-los que escolheram um morador da zona rural de Paripiranga para ilustrar a imagem da felicidade com a luz elétrica em sua casinha?

APÓSTOLOS - Antes dessa santíssima trindade de verdade anunciar com trombetas, ao ritmo do mantra de agora tem/tem/tem (especula-se que o hit será logo substituído pelo refrão minha casa/minha Dilma), que a Bahia é um paraíso para gente real, o máximo que se via de pessoas de verdade satisfeitas na TV eram os meninos das escolas públicas que freqüentavam o elenco do programa Aprovado, em sua versão anterior. Enquanto jornais e telejornalismo mostravam o mundo acabando-se ou já acabado na rede estadual de ensino, no Aprovado só havia aluno feliz que nunca falou em dificuldade, violência escolar, falta de sala ou de professor. Mais pareciam apóstolos de tão contentes e comportados, sem uma queixa sequer, sem uma pergunta incômoda e certos de passar no filtro rigoroso das universidades públicas. Saudosos dos alunos satisfeitos do Aprovado, enojados com o povo de margarina, os telespectadores agora vão ao clímax com o contentamento das suas senhorinhas e do lavrador sem dente, todos de verdade. Sim, pois a TV é que não os inventou.

Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA.

20 de dezembro de 2009


Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira."

Che Guevara

Um mundo maravilhoso

Por Elaine Tavares
Patética cena. Na plateia, de mãos dadas, a realeza. Olhos sorridentes, expressão de gozo e aquela serenidade dos saciados. No púlpito, o arrogante soberano do mundo. Recebia o Nobel da Paz e falava da necessidade da guerra. Nada poderia parecer mais cínico. Justificando a postura imperial dos Estados Unidos, Barack Obama insistia na sagrada missão que este país tem de levar a democracia ao mundo, nem que seja sob o fogo grosso. A imposição da “liberdade liberal” a todo custo, com canhões e bombas.
Grotesca cena, assistida por milhões de pessoas no mundo. Os reis, feito cortesãos, aplaudindo o imperador. E este anunciava a decisão de enviar mais tropas ao Afeganistão, mais mortes, mais destruição, mais dizimação da cultura, da vida. E os lambe-botas, assentindo, extasiados, vendo o dono do mundo, no seu terno vistoso, cuspindo balas. “A guerra é fundamental para preservar a paz...” Que o digam os estadunidenses empobrecidos, os que perderam as casas na crise imobiliária, os que ficaram sem emprego por conta da quebradeira de empresas privadas “competitivas”, os que tiveram de ver seu governo investindo um trilhão de dólares para salvar os bancos, enquanto eles mesmos tem de viver em tendas, sem saúde adequada, sem esperança. Que o digam as gentes dos EUA que observam o Nobel da paz gastar dez bilhões de dólares ao ano com a guerra no Iraque, os que vem seus filhos chegar em caixões.
A guerra dos Estados Unidos não é uma missão confiada por deus para levar boa vida às gentes. A guerra é uma imposição do capital que precisa se expandir. Quando a produção é demais e não há quem compre, é necessário criar alguma destruição para que as empresas possam ter a quem vender. Assim, destruir um país parece ser um bom negócio. Não tem nada a ver com democracia, liberdade e outros destes conceitos bonitos que os cínicos usam para enganar os incautos. O capital lambe os beiços e vai se sustentando mais um pouco, construindo países que foram arrasados pelas bombas.
A teologia que move a sede de poder dos Estados Unidos não nasceu agora, não é exclusividade do jovem imperador. Ela vem de longe na história, e nós, na América Latina, já a sentimos na pele desde quando este país decidiu roubar as terras mexicanas no início do século XIX. Desde lá, as doutrinas de guerra vem assolando nossas vidas, com invasões armadas, invenção de governos ditatoriais fantoches, invasões culturais, invasões empresariais. Tudo isso em nome do “deus” dinheiro, tudo em nome do poder.
Ontem, na entrega do cínico Nobel da Paz, o jovem imperador escrachou a doutrina. Sem pejo. “Não há paz sem a guerra!” E os poderosos – defendeu com seu nariz empinado - tem o direito de impor sua vontade ao mundo. Porque tem os canhões. Michele, vestida como uma imperatriz, deu o toque familiar, limpando tal qual uma dona de casa típica, o fato do marido sob os holofotes. A Globo terminou aí sua matéria, com um riso de admiração no rosto de Bonner e Fátima, eles próprios um casal modelo. E, nas casas, as gentes sorriram. “Quão lindo é esse homem, e quê coragem em defender a guerra!” Enquanto isso, lá longe, no Oriente Médio, as bombas seguem caindo, assim como no Afeganistão, em Honduras, na Colômbia. Mas tudo bem, são só luzes. E é natal...
A razão cínica domina o mundo. Já não há disfarces. Mas eu acredito que uma hora dessas, as gentes acordarão e, decididas, dirão: Já basta! Ou isso, ou a barbárie.
Elaine Tavares é jornalista

Fazer política é passar do sonhos às coisas, do abstrato ao concreto. A política é o trabalho efetivo do pensamento social: a política é a vida. Admitir uma quebra de continuidade entre a teoria e a prática, abandonar os realizadores a seus próprios esforços, ainda que concedendo-lhes uma cordial neutralidade, é renunciar à causa humana. A política é a própria trama da história.

a vida A história, fazem-na os homens possuídos e iluminados por uma crença superior, por uma esperança sobre-humana; os demais constituem o coro anônimo do drama.

José Carlos Mariátegui

Estudar a América Latina nos faz ver que podemos muito mas que escondemos o nosso poder no medo de lutar por causas realmente importantes...